segunda-feira, 11 de março de 2013

Com o Padre António Vieira – II

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Valho-me, de novo, da preciosa ajuda do Padre António Vieira para “olhar” para o “estado a que isto chegou”. Neste caso, do “Sermão do Bom Ladrão”, proferido na Igreja da Misericórdia de Lisboa, em 1655.

Ø “- “Basta, Senhor, que eu, porque roubo com uma barca sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?” Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito faz os Alexandres.”

Ø “A tenção dos príncipes não é nem pode ser essa; mas basta que esses oficiais, ou de guerra, ou de fazenda, ou de justiça, que cometem roubos, sejam eleições e feituras suas, para que os príncipes hajam de pagar o que eles fizerem.”

Ø “Conjugam por todos os modos o verbo rapio; … Finalmente, nos mesmos tempos não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, plusquam perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtaram, furtavam, furtariam, e haveriam de furtar mais, se mais houvesse. Em suma que o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo: a furtar para furtar.”

Ø “Por mar padecem os moradores das Conquistas a pirataria dos cossários estrangeiros, que é contingente; na terra suportam a dos naturais, que é certa e infalível. … enfim, o cossário do mar pode o que pode, os de terra podem o querem, e por isso nenhuma presa lhes escapa.”

Transpôr estas observações com mais de 350 anos para o Portugal que hoje vivemos serão, da minha parte, pura maledicência… ou não.

Sendo maledicência da minha parte, tenho por certeza certa que todas as instituições democráticas que nos governam abraçarão, sem quaisquer dúvidas ou retardamentos, as duas propostas que a seguir apresento.

Primeira Proposta -> Declaração formal, e urgente, do “estado de emergência nacional”

Porquê esta proposta?

Claro que muitos protagonistas – governo, deputados, partidos políticos, comentadores políticos, jornalistas políticos, etc, etc, etc. – se têm referido ao “estado a que isto chegou” como configurando uma situação de “emergência nacional”. Mas ela não foi formalmente declarada! Porquê? Não será por que essa declaração formal implicaria, de imediato (e apenas como exemplos):

1. Que os bancos fossem proibidos de utilizar os milhares de milhões de euros que receberam do Estado a 1% (ou menos) de juro em jogos financeiros especulativos? (De novo um exemplo: os perto de 30 milhões de euros de lucro obtidos pelo BPI com a dívida pública nacional seriam, de imediato, devolvidos ao Estado!)

2. Que todas as fortunas de cidadãos portugueses “ colocadas” em “offshores” fossem taxadas a um mínimo de 50%, sem perdões de qualquer espécie? (Não é honesto argumentar que esta medida levaria à fuga de capitais – eles já fugiram!) (Outro exemplo apenas: os “esquecimentos” que foram “de repentemente lembrados” pouparam, a quem se tinha “esquecido” e de repente se “lembrou”, o pagamento de cerca de 10 milhões de euros de impostos!)

3. Que todos aqueles que receberam empréstimos bancários de milhões de euros (totalizam, somados, muitos milhares de milhões) fossem colocados em prisão domiciliária, com pulseira electrónica, até restituírem a totalidade dos valores recebidos. Ao mesmo tempo, as suas contas bancárias, aqui e no estrangeiro, seriam congeladas; e os seus bens patrimoniais penhorados? (Nenhuma destas medidas deixa de ser aplicada pela “justiça” a qualquer vulgar cidadão que não cumpra os seus compromissos!)

4. Que todos aqueles que, eventualmente, se “ausentem para parte incerta”, com os respectivos “teres e haveres” sejam publicamente identificados, bem como seja solicitada à Interpol a sua detenção imediata por crime contra a comunidade portuguesa? (Nenhum vulgar cidadão português teria possibilidades de se “ ausentar para parte incerta” sem o necessário “apoio financeiro”)

Segunda Proposta -> Constituição de uma Comissão de Auditoria à Dívida, constituída por peritos nacionais e internacionais, com a exclusão explícita de “peritos” com ligações ao FMI, ao BCE, à Comissão Europeia, às chamadas “agências de notação” e aos bancos.

1. Esta Comissão, actuando sob a égide da Assembleia da República, não lhe devolveria o indispensável estatuto de Casa-Mãe da Democracia, rejeitando definitivamente o lugar de alternância a que, manifestamente, se auto-reduziu, ao aceitar, sem um simples tremor, que os partidos que nos têm governado façam da alternância governativa um caso sistemático de “ora agora governo eu e acusas tu; ora agora governas tu e acuso eu; com garantia de impunidade para nós e castigo para os outros”?

2. Não saberíamos, no final da sua acção, por que chegámos aqui; como chegámos aqui; quem foram, e são, os responsáveis por termos chegado aqui; quem lucrou, e lucra, com o caminho percorrido, e com o que está a ser percorrido?

3. E não ganharíamos, todos, a confiança que nos é vital para enfrentarmos, e vencermos, os duros caminhos para o Futuro, sem termos a nítida sensação – diria, a nítida certeza! – de que estamos a ser apunhalados pelas costas?

Tudo o que ficou dito acima é, “não tenho dúvidas”, pura maledicência. Por isso é que “tenho a certeza” de que “alguém” já tem preparados os dois diplomas que darão resposta a estas duas propostas. Falta só serem promulgados.

Ou será que estou enganado? Que “isto” não é maledicência? Que “isto” é mesmo assim? Que, de facto, “os de terra podem o que querem, e por isso nenhuma presa lhes escapa”?

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