terça-feira, 30 de julho de 2013

A Toponímica como Ideologia Política

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“Declaração de Interesses”: não acredito em coincidências em política.

Posto o que dei por mim nesta “atribulada reflexão” quando, num recente passeio nocturno com o meu cão, comecei a olhar para os nomes das ruas e largos por onde ia passando. Vejam lá o resultado:

1. Largo das Necessidades. Ora, é aqui que mora o Ministério dos Negócios Estrangeiros! Nada mais apropriado, pois as “nossas” necessidades sempre dependeram (dizem-nos…) dos estrangeiros, nomeadamente no que respeita a negócios…

2. Tapada das Necessidades. É do mais comum bom senso que as necessidades se satisfaçam com adequado recato, o que está garantido em local “tapado”. E recato que igualmente se aplica aos negócios, devidamente “tratados” em lugares aprazivelmente contíguos, pois além do segredo, nada melhor para alcançar o sucesso, ou a satisfação da necessidade, do que a rapidez na consumação do acto.

3. Rua das Necessidades. Desagua no Largo das Necessidades, vinda de um … Hospital! Será a necessidade transformada em urgência, situação que retrata com especial desvelo as “maleitas” de que, dizem, padecemos, e para cuja “cura” os estrangeiros nos são essenciais.

4. Calçada das Necessidades. Tem extrema importância o estudo aprofundado e rigoroso, com “conhecimento de causa”, dos diversos tipos de necessidades que nos afligem, como os diagnosticar, como lhes dar remédio, com a ajuda preciosa de estrangeiros sabedores e experientes, e resguardados de olhares indiscretos, malévolos e invejosos, para conseguirmos uma apropriada defesa contra “necessidades inúteis”, ou “receitas contraproducentes”. É com esta prestimosa missão, amparado pelo resguardo da Tapada, e “paredes-meias” com os “Negócios Estrangeiros”, que o Instituto de Defesa Nacional “habita” a Calçada das Necessidades, dando diárias provas de incansável atenção e preocupação preventiva, por influência determinante do facto de a Calçada ter sentido único e sempre a subir…

5. Travessa das Necessidades. Constitui um outro ponto de saída do Hospital, mas conduz inexoravelmente (também por sentido único) aos “Negócios Estrangeiros”.

6. Travessa do Tesouro. Localização verdadeiramente inesperada, mas “compreensível”. Tem a sua “foz” entre a Rua das Necessidades e o Largo das Necessidades. É um trajecto muito curto, de sentido único e sempre a descer, com grande inclinação, requerendo extremo cuidado no seu uso.

7. Rampa das Necessidades. Constitui um prolongamento (íngreme) da Travessa do Tesouro. Dando razão à necessidade de um uso muito cuidado da Travessa, desagua ferozmente num Largo dito do 31…da Armada…

Aqui chegado, reparei que a conclusão da minha “atribulada reflexão” sobre a toponímica e a sua “relação” com os severos tempos que vivemos, era uma conclusão “triste e feia”. E não é que:

8. Rua Triste Feia. Fica a 100 metros do Largo das Necessidades!

Foi então que tive uma epifania: eu, que não sou crente, dei por mim a “perceber” por que razão a nossa governação bi-acéfala mora num lugar “sagrado” – S. Bento – e num lugar “bíblico” – Belém!

Tenho que rever a minha “Declaração de Interesses”! Ou não…

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