quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Humanidade


                 "A medida do tempo é o tempo escoar-se.
                   A medida do Amor é a recusa do tempo."
                                        Armindo Rodrigues

  Vivemos tempos conturbados. Incertos, instáveis, inseguros, estes tempos carregam-nos com angústias, medos, raivas. Tempos de cólera, diria Garcia Marquez. Tempos de confronto com uma "tempestade perfeita"- de um lado atinge-nos uma gigantesca onda impondo-nos a ditadura do imediato, e perdemo-nos do tempo que julgávamos nosso; do outro lado, asfixia-nos uma outra onda gigantesca, a da precariedade e do desemprego, e perdemo-nos das raízes de onde viemos, do nosso lugar também ele fugaz e tantas vezes obsoleto, do futuro cada vez mais uma quimera. Afogados nesta tempestade perfeita, perdemo-nos dos Afectos que somos, vendo-os e sentindo-os sistematicamente, metodicamente, intencionalmente, torturados, e violados pela desvairada e despudorada urgência do termos.
  "Não Há Alternativa!", berram-nos com a violência de um furacão os donos do Poder, para quem nós não ultrapassamos o estatuto de "coisa", de "objecto de uso corrente", meros "recursos" descartáveis se não abdicarmos do Ser, se não nos sujeitarmos à contribuição diligente e abnegada para o Ter deles.
  Mas Há Alternativa! Que o digam as Mulheres, que há milénios lutam contra o domínio do homem e que, conseguidas vitórias e sofridas derrotas, não desistem - nunca! - dessa luta!
  Vivemos tempos de luta. Duríssima, difícil, tremendamente exigente. Mas é nela, vivendo-a, praticando-a, lutando-a, que afirmamos a nossa inviolável Dignidade, o nosso Ser. E se é verdade que poderemos não ver o resultado final, será também a nossa forma de merecermos aqueles que, lutando, nos trouxeram até este Hoje, um Hoje que reivindicamos nosso, tal como nosso queremos o Futuro que não abdicamos de construir como nosso.
  Um Hoje e um Futuro onde os Afectos morem, Livres e Inteiros.

          Humanidade
Entre o que pensa a cabeça
E o que as mãos fazem
Há um universo de emoções
Múltiplas e contraditórias
Que urge aceitar que existem
Compreender porque existem
Escolher como existem
Para de repente olharmos para o lado
Descobrirmos o Outro
E com ele partilharmos ilusões
Certezas e dúvidas
O compromisso das diferenças
A que chamaremos Dignidade
O abraço dos mesmos valores
Com que cantaremos a Amizade
E o Amor com que entrelaçaremos
As mãos e os Sonhos
Até construirmos a última Cumplicidade
A que daremos o simples nome de Humanidade.


















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